12 de fevereiro de 2015


 
Hoje, apenas hoje

maria da graça almeida

 

Hoje, apenas hoje, euforia esbanjo...

Com novo canto, acalanto a crença dos santos;

visto-me de anjo, a soar  novo banjo;

cubro com manto os desvarios de tantos.

 

Hoje, apenas hoje, fantasias esbanjo.

coloco um véu branco e no espelho me arranjo,

de azul pinto a face a sonhar com doçura,

os sonhos azuis nunca trazem amargura.

 

Hoje, apenas hoje, alegria esbanjo...

Com  ares risonhos, apago o passado. 

os fantasmas tristonhos ponho de lado

e, ao deixar-me no ar, ponho os olhos sossegados.

 

Hoje, apenas hoje, sorrisos esbanjo.

Aceito o inevitável, sacio o insaciável,

creio no incrível, vejo o invisível,

venço o invencível, atinjo o inatingível,

possibilito o impossível, sensibilizo o insensível,

desfaço-me do ilusionismo das asas

largo os sonhos à deriva e, deles, despida,

volto leve pra casa.

 

Hoje, apenas hoje...

5 de fevereiro de 2015

Certo poeta maria da graça almeida Bem aqui dentro de mim mora certo poeta de meio sorriso, meias palavras, meias verdades. Um incerto poeta, geração sem nome, que estrangula minha vontade de livre dizer o que melhor me aprouver. Um poeta escravo dos martírios da fome e da insensatez e pecados dos homens. É poeta morto esse que em mim ressuscita e comigo grita se não lhe traduzo o pensamento. Nasceu de buscas infinitas, filho da ansiedade e dos desejos, neto da denúncia e do inconformismo. É poeta masculino, réu indefensável. De minha lama fez seu ninho, de minha dor, o manto, de minha mágoa, o leito, onde falece e renasce em todas as horas, tratando o dia feito inútil domingo, a noite, tal qual fútil feriado. Esse certo poeta incerto é poeta suicida. De meu corpo fez seu ataúde, de meus dedos, a guirlanda, de minha garganta, o túmulo, de minha face, o retrato. Ele, morto ou vivo, por inteiro habita-me e eu nem bem sei o porquê, ponho-me à sua mercê... Imposição e domínio não me aviltam. A ele toda me doo, inda lhe empresto as linhas e o poeta rascunha, rabisca e usa-me. Abusa-me até das entrelinhas.

15 de agosto de 2014

Mente
 maria da graça almeida
 
A mente mente,
sadia ou doente
sempre mente,
constante, mente!
Quando sã,
 castelo de ilusões,
 edifica;
se doente,
 constrói prisões
 e  as habita.

21 de outubro de 2013

  • A primeira calça Lee
    maria da graça almeida

    Era feito um delírio... o sonho da "calça própria."
    Não me sentia contente dentro de simples "rancheira",
    com o coração palpitando por uma Lee verdadeira.
    Porém tinha confiança no poder da intenção,
    na força da esperança, na realização!
    Quando de fato queria, queria até sem razão
    e mais dias, menos dias, o que fosse, tinha às mãos...

    E a Lee chegou de repente, embrulhada para presente.
    Feliz, rasguei o papel e ela saltou duramente.
    Dura, literalmente, era essa sua textura.
    Mais de duas lavagens e seguia rija, segura.

    -Bote-a em água pura - disse-me certa criatura-
    a goma deixará o tecido, o cós, também as costuras!
    Com pouca experiência e sem convicção,
    fiz como orientada. Eu não tinha compreensão
    e nem detinha ciência sobre calças importadas.

    No balde ela permanecia e eu, longe da alegria,
    debalde aguardava a vez dos sinais da maciez,
    no entanto só sentia um sutil desbotamento
    e a mesma rigidez, vindo de fora pra dentro.
    Desejava-me moderna, porém o desalmado jeans,
    de uma aspereza sem fim, nas tardes, sem boa frescura,
    lanhava-me as pernas, o bumbum e a cintura.

    Até que um belo dia, finalmente se entregou.
    A água domou a corporatura da roupa teimosa e dura.
    E a minha figura largou-se ao abraço quente
    de uma veste importada, linda, justa e envolvente.
    Dela, ainda trago o couro Lee guardado,
    junto das boas lembranças da jovem que fui um dia,
    feito fotografia da calça com a qual, orgulhosa,
    constantemente eu me exibia...

7 de julho de 2013

AMAR - Maria da Graça Almeida


Amar
maria da graça almeida

Amar é o arrepio que se sente no verão; 
é levitar sem tirar os pés do chão;
é tentar dormir para outra vez sonhar
um sonho do qual não se quer mais despertar.

Amar é carregar um fardo de emoção,
é gelar as mãos no afã da pulsação;
é crer anil um céu dormente e desbotado 
e ter o dia feito domingo ou feriado.

É o reflorescer seja em qualquer idade
e entre a razão e o coração pressentir 
que a paixão não tem prazo de validade.

É manter no amado o primeiro namorado
e encantar-se com seu jeito de sorrir,
mesmo que com ele já esteja acostumado.

2 de julho de 2013

Natureza Humana


Natureza Humana

Sorriso enluarado, 
longos braços de mar,
olhos de chuva leve, 
mãos de doce ventar, 
riso de queda d´água, seios, 
vastas colinas, 
cabelo, anel de nuvens pernas, 
árvores finas. 
(Maria da Graça Almeida)

22 de junho de 2013

Amo-te

Amo-te
maria da graça almeida

Antes de ti eu ignorava o sabor do amor
antes de ti não tinha motivos para conhecê-lo,
até que surgiste, não percebia a bonança exterior
tampouco o frescor amigo da brisa interior.

Despertaste em mim um sentimento
que enobrece a alma e acalma as inquietudes;
que me fortalece as virtudes e me embala
sob a melodia do aconchego e da ternura humana.

Incitas-me a usufruir a maneira de viver
como desde a tenra infância desejei;
deste -me o direito de optar pelas próprias trilhas,
tiraste a sombra da melancolia
que velava meu coração ansioso.

A calmaria que experimento no fundo do peito
devo-a a ti, porém sei que igualmente a devo a mim
quando permiti que a magia do teu amor
me envolvesse plenamente;
quando pressenti a resplandecência de tua aura;
quando me dispus a desfrutar de tua interioridade.

Amando-te, fiz por amar-me também
ao amar o sentimento de amor que habita em mim
e que ora, eterno, alimento por ti.
Amo-te. 

28 de abril de 2013

13 de abril de 2013

Brasília



Brasília
maria da graça almeida
 
Cidade que lembra uma praia sem mar,
ou nave inerte bem rente ao chão...
Pesada é a asa que faz por alar
 o corpo insensato da corrupção
Ao tentar a busca por certo alento
que a alma saudável ou enferma, recruta,
mesmo envolvido ou com nada atento
pressinto até, plena em constrangimento,
passado  o tempo de colher boa fruta.
 
Murmúrios, cochichos, sibilos, conchavos,
segredos, conluios e a aviltação,
ofuscam, seguros, a luz e o brilho 
da crença que um dia amparou a nação.
Espero que ainda, das torpes doutrinas
vejamos Brasília trocar as cortinas,
pois ora se sabe que a roxa ganância
seja ela anciã ou ainda menina
 contrapõe-se ao tom do verde-esperança.
 
Ao nos relembrarmos da bela cidade
reportamo-nos, todos, a todo o país
que agora revela ter a identidade 
descritas por manchas de rubro matiz...
E a nave que só aprendeu a voar 
nos doces delírios presidenciais
enleou-se em tramas de agudas barreiras
e mostra que até para os feitos cabais
 a forte ambição delimita as fronteiras.
 

31 de janeiro de 2013


 

 Verbo ser

maria da graça almeida

A vida que nascia escondida,  sob o  gerânio e as  cravinas,

não era  feito a que se via  no alto das árvores ressequidas.

 O ser que no baixo se  avistava

 desconheceria a inebriante vertigem da altura.

 Era uma nova vida que apesar da beleza do leito natal, 

 cama reflorida, explodia em vitalidade rastejante, 

gosmenta e asquerosa.

 O mesmo não se diria do outro vivente 

que entre palhas, capim e galhos secos

-tosca e rude ambientação -

mais  tarde experimentaria, nos céus,  

as delícias dos largos e audaciosos vôos.

 

 Era a surpresa dos desabrochares;

 era o conflito da beleza plena com a repugnância total;

um embate de quem olhava apenas o ali, o agora,

com  quem  vislumbraria o adiante, o depois.

 Era o soluço de quem nada seria,

respondendo ao sorriso de quem tudo teria.

 

 E nesse fim de tarde atoleimado,

 quando o nada a fazer dispôs-me às observações inúteis,

  minhas divagações levaram-me a perceber 

que a tempestade e a bonança de uns e outros

já  foram retratadas por pares e pares

de olhos curiosos e, sobretudo, desavisados,

   não cientes de que as fotografias não são eternas, 

 mas, enquanto forem visíveis, serão imutáveis.

O que é independe da nossa força, vontade e fé.

O que é será sempre como sempre foi.

 O que é sempre será.

5 de novembro de 2012

Meio- dia


Quando escrevi este poema, em pensamento, 
eu estava no largo da Igreja de Pindorama.
 

Meio-dia
maria da graça almeida


Tudo ocorre ao meio-dia.
O dia chega ao meio,
o sol, de luz, é bem cheio;
o trem que vem e apita;
estômago oco se agita;
o guri pega a bola,
a mochila vai à escola.
Tudo ocorre ao meio-dia.
Na igreja insiste o s
o céu, no azul, é menino;
na praça clara, deserta,
o tédio do homem, desperta;
um cão se encolhe na rua,
o sol não vislumbra a lua.
Tudo ocorre ao meio-dia.
Dias nos tons da tristeza,
dias nos sóis da alegria .
Dias de pão sobre a mesa,
dias do adeus à fartura.
Pare um dia e repare
o dia ao meio-dia,
num sol tão forte que arde,
tão longe está da manhã,
quão longe, do fim da tarde.
O dia é muito mais dia,
sem atraso, sem desconto,
quando já é meio-dia,
um dia ao meio em ponto.
 
Maria da Graça Almeida.                                     

4 de agosto de 2012

Chuva doce

maria da graça almeida

Quero que a chuva
chova: plim... plim...
gomas e balas
de amendoim.
A boca e as mãos
porei bem abertas
pra chuva esperta
pingar sobre mim!

Se a chuva descer,
feitinha, assim,
de gomas e balas
de amendoim,
será que a mamãe
dirá pra chover
escovas-de-dente
em cima de mim?

10 de abril de 2012

Confusão

Confusão
maria da graça almeida

 Ainda que tenham significados diversos, há quem, comumente, confunda: prepotência com liderança; arrogância com competência; persistência com teimosia; delicadeza com submissão; empreendedorismo com ganância; gentileza com fraqueza; precaução com medo; impetuosidade com coragem; comedimento com avareza; desperdício com generosidade; bondade com tolice; timidez com orgulho; extroversão com exibicionismo; carinho com compaixão; inveja com admiração; ódio com ciúme; permissividade com amor; insegurança com perfeccionismo; modéstia com incapacidade; limites com desamor; gula com fome; agressividade com autoridade. Há posturas que dificultam o discernimento até das pessoas ditas perspicazes e observadoras. Para diagnosticar tais características com melhor precisão não há de se olhar com os olhos da visão e sim com os da percepção.

8 de fevereiro de 2012

Aprender 

 maria da graça almeida
 
Anseio aprender coisas significantes, mas quero, primeiramente, descobrir o porquê de alguns acontecimentos, ainda que de irrelevantes aspectos.
Por que sempre me parece que: -o intervalo entre Segunda e Quinta é bem mais longo que o intervalo entre Terça e Sexta?
-a manhã voa e a tarde se arrasta? -o tempo passa mais velozmente depois que atingimos os quarenta anos?
-o último pedaço do biscoito sempre nos salta das mãos? - o final da casquinha do sorvete é o mais gostoso?
-muitas pessoas são reverenciadas só depois da morte?
-a ordem passa-nos despercebida e a desordem salta-nos aos olhos?
-há homens que, quando embriagados, tornam-se de uma generosidade infinita e prometem dar o que não têm?
-apenas nos sabemos felizes no tempo que já passou?
-a mulher de 40 é uma velha e o homem da mesma idade, um gato?
-no inverno não acreditamos que um dia usamos maiô e no verão, achamos absurdo um dia termos usado casacos de lã?
-o bom acaba logo e o ruim demora? -quando em viagem, a ida sempre é mais demorada que a volta, ainda que percorrendo o mesmo percurso? -os casais quando enquanto apaixonados não enxergam os defeitos do parceiro?
-os hábitos do companheiro tornam-se insuportáveis quando o amor decresce?
-acostumamo-nos à beleza das pessoas e dos objetos a tal ponto que chegará o dia em que
nos passará completamente despercebida?
-localizamos objetos cuidadosamente procurados apenas quando já desistimos de encontrá-los?
- a mulher esquece-se das dores do parto, assim que deseja ter outro filho?

1 de fevereiro de 2012

De quem falo?

De quem falo?
maria da graça almeida


Mesmo indiscreta, não me calo: entraram em férias!... Não, não, aposentaram-se ... Civilidade, Delicadeza, Cordialidade, Simpatia por onde andam hoje em dia? Talvez consideraram-se um desserviço, talvez optaram pelo sumiço, talvez entediadas se mudaram, talvez morreram por falta de exercício, talvez se encontram em estado vegetativo num arcaico livro de etiqueta, talvez exterminadas das velhas receitas de convivência social, talvez encarceradas num antigo diário de registro pessoal, talvez relegados à poeira de um sótão abandonado, ou na escuridão de um porão judiado ... Mesmo indiscreta, não me calo: entraram em férias! Não, não, aposentaram-se...

maria da graça almeida

29 de janeiro de 2012

A sociedade só cuida bem dos que, pela origem, já foram bem cuidados. Aqueles que por parte do sistema financeiro, do núcleo familiar e do grupo de amizade não receberam a merecida atenção, pela coletividade, serão desqualificados. 

 maria da graça almeida

20 de janeiro de 2012

Boca esperta


Boca esperta
maria da graça almeida

Fala, fala, fala,
maquininha de palavras,
fala, fala, fala,
a boquinha não se cala.
Ri-se, ri-se, ri-se,
ri, sorri por quase nada,
ri-se, ri-se, ri-se,
sem motivo, a risada.
Chora, chora, chora,
soluçando, escancarada,
chora, chora, chora,
de uma forma exagerada.
Fala, ri e chora,
dia todo, toda hora,
fala, ri e chora...
sempre pronta,
sem demora.
A boquinha abusada
da alternância é senhora.

4 de janeiro de 2012

De repente,


De repente
 maria da graça almeida



De repente,
insiro-me no desleixo visual
ou na improdutividade da apatia,
deixo o espelho falando sozinho
ou o tempo correndo na inércia
de um relógio franzino.

De repente,
os valores viram pó,
a vontade ata-se em nós,
os desejos quedam-se aniquilados
e as expectativas jazem
num papel amarfanhado.

De repente,
o terço, a bíblia e a fé
tornam-se ateus,
o espaço, a minha volta, cresce
e eu decresço, neste mundo,
pigmeu...

De repente,
na impossibilidade dos passos,
prendo- me em famigerados laços,
e a letargia
sufoca-me, dia a dia.

De repente,
o sim endurece,
o não recrudesce
e o talvez fita-me
com olhar indiferente.

De repente,
o nada torna-se infinito,
o tudo se faz restrito
e, para sempre, a paz
transmuda -se
em conflito.

21 de dezembro de 2011

Quiçá

Quiçá
maria da graça almeida
 

Quiçá falássemos da Rosa,
que pela efemeridade das pétalas
tem frágil a aparência e breve a elegância;
quiçá da Chuva de Verão,
que pelo período de precipitação
traz a água tímida, curta, mas benfazeja;
quem sabe disséssemos do Cego,
que, perscrutando a escuridão perpétua,
constrói trilhas e corredores negros,
onde caminha, solitário e indefeso;
talvez pensássemos nos ventos,
que varrem o planeta em corrente perene, sem entenderem da poeira que  ofusca os olhos da gente, sem perceberem os grãos da germinação.
Mas, não. Silêncio! Mudez de vozes e pensamento.
Não diremos nem destes, nem daqueles, tampouco dos mais reservados sentimentos.
Nuvens acinzentadas empanam os céus
e um engasgo profundo não nos permite usufruir a fluidez do ar.
Nada dança à nossa volta.
Notas ressoam, não feito música.
São apenas flébeis gemidos.
 
A poesia entristeceu. Na agonia da esperança, um poeta morreu. Um Poeta morreu...
Em seu féretro pobre, calado, caminha o Verso, seguido pela indecisão da Letra, pela mudez da Sílaba, pela surdez da Rima.
Lágrimas, apenas as da Inspiração,
quando no sumiço do viço
umedece a palidez da Musa,
que desacerta a direção,
que esquece o compromisso...

14 de dezembro de 2011

Tempo de dores

Tempo de dores

maria da graça almeida

Longe vai o tempo
do tempo das flores,
quando só os amores
traziam dores ao peito;
quando os espasmos do ventre
eram a fertilidade das damas;
as pontadas na cabeça,
resultado do pouco dormir;
as fisgadas nas costas,
inusitadas posições na cama.

Hoje pouco dizemos de flores,
bem mais nos queixamos de dores
que já não são bobagens;
são dores que nos levarão
a estranhas paragens.
Agora é o tempo
das feridas de verdade,
sob o espectro saudoso
da longínqua mocidade.

Saudade do tempo de ontem...
quando desfrutávamos
de nova embalagem;
quando dos supostos males,
às largas, inda ríamos;
quando éramos felizes...
e certamente o sabíamos.

11 de dezembro de 2011

"Mezzo" monorrrimo

"Mezzo" monorrrimo
maria da graça almeida


Vem da rua, vem do mato,
vem ligeiro, sem recato,
vem da vida, vem da vila,
vem da lida, vem sem laço,
varredura que bandida
põe em falso o meu passo.
Não tem eira, não tem beira,
não tem óculos, nem viseira,
volve o chão e traz poeira,
põe meu corpo em tremedeira,
aos meus olhos traz coceira,
aos ouvidos zumbe asneiras.

Vem segunda ou terça-feira,
vem depressa às carreiras,
fecha forte o portão,
bate firme a porteira,

vem sem braço e sem mão,
nem dá mostra de canseira.
Gira a saia da mocinha,
meu cabelo desalinha,
rodopia, sobe e desce,
invisível se encaminha
nem em sombra aparece.
Tanto vento é um tormento,
mesmo quando chega lento.
o tal vento nem aguento,
vem de fora, vai pra dentro.
Mesmo quando chega lento,
atrapalha bons momentos,
desafia o meu intento
de cedinho ir pra rua,
de olhar de frente a lua
de quedar-me em casa nua...

1 de novembro de 2011

Beija-flor


Beija-flor
maria da graça almeida

Toda vez que comovido
bem de leve toca a flor
sai com o bico ferido,
retirando-se sem cor!

Desolada com a cena,
a Margarida com pena,
doce, pede ao passarinho,
que lhe dê o seu carinho.

A ave, voando em festa,
pressente do espinho a dor
e teimosa só empresta
beijos sempre à mesma flor!

Margarida com ciúme,
desprovida do perfume,
chora ao ver o bem amado
pela Rosa maltratado:

-Não tenho dela o olor,
porém, não possuo espinhos,
beije-me com muito amor,
eu não firo passarinhos!

- Flor miúda, graciosa,
meu martírio ora lhe digo,
eu jamais amei a Rosa,
amo apenas o perigo!